Antonio
Marcos Ferreira[i]
Produzir uma narrativa descritiva da vida do saudoso miriense Manoel
Machado é tarefa que assumo com liberdade e indescritível satisfação, dada a
importância do poeta que considero o maior cordelista que por essas “bandas” tive
a oportunidade de conhecer e traçar ainda que breve diálogo em vista da
avançada idade e complicada situação de saúde pela qual passava o escritor no
período de nossa aproximação.
Ainda assim, digo esse tempo de convivência limitada me instigou ao conhecimento
dos mais importantes momentos e fatos da vida de Manoel Machado. Acrescento
ainda minha gratidão pela família do poeta, com a qual desfruto hoje de amizade
e respeitosa aproximação, sobretudo sua esposa – viúva dona Nazaré Machado e um
dos seus herdeiros, o matemático Maelson Nazareno Machado, que com talento
similar também atreve-se a trilhar o trajeto poético do pai, inclusive com
assento na recém constituída Academia Igarapemiriense de Letras.
Consta
no documento de registro geral de Manoel Machado as informações de seu
nascimento, cujo nome de batismo é Manoel Alexandrino de Castro Machado, datado à 22 de setembro de 1929, na comunidade
de Rio das Flores, distrito do Maiauatá, município de Igarapé-Miri. Filho de Pedro
Paulo Machado, que atuava como comissário (na época, uma espécie de
representante da comunidade junto a polícia civil do município) e Isabel de
Castro Machado (a qual exercia a função de professora).
Desde
sua infância, já mostrava a paixão pela poesia, tendo sua mãe como principal
incentivadora. Seu talento começou logo
a ser notado a ponto de com apenas dez anos de idade ter sido convidado a
recitar um poema ao então Governador do Estado do Pará, Joaquim Magalhães Cardoso
Barata, ou simplesmente Barata. Foi aí que colocado em cima de uma cadeira o
então garoto assim declamou:
Tu já viste a árvore correr atrás do
garoto que lhe atira pedra? Pensas por ventura que a árvore não tem
sensibilidade e consciência dos seus frutos e das suas flores. Tem! Mas, Deus
prevendo o futuro, enraizou-a no chão para que ela não se esquecesse do seu
dever, de perder tempo para vingar injúrias. (Fragmento do poema “O menino e a
árvore” - não se tem certeza sobre a autoria do mesmo)
Conta
Maelson, que após recitação o menino teria sido ovacionado graças a percepção
de seu talento e entonação para uso público da palavra, habilidade que mais
tarde seria cada vez mais aprimorada em dezenas de produções em cordel construídas
pelo poeta popular.
Durante
sua juventude trabalhou de empregado com um comerciante na própria localidade,
tendo depois se mudado para a cidade de Igarapé-Miri, onde casou-se com a jovem
Nazaré, a qual encantou-se com tipo galanteador do poeta, prosador, artesão contador
de estórias, entre outras virtude de Manoel Machado. Durante o longo tempo de vida conjugal o casal
concebeu a paternidade de cinco filhos, sendo os quais cito respectivamente
conforme ordem de nascimento: Nilzeth, Maelson,
Mozaniel (este tento falecido ainda na
infância), Mailson e a caçula Nildete , além de Núbia (fruto de uma primeira relação
de Nazaré) e Jesus das Graças “ Jota”
(este adotado pelo casal) , os quais Machado
cuidou e educou tão bem quanto os demais.
Sua
habilidade com as rimas (literatura de cordel) lhe renderam popularidade em seu
Igarapé-Miri e em outras cidades da região, tendo sido convidado por vários
políticos e celebridades para escrever sobre suas trajetórias de vida.
Publicou
dezenas de trabalhos de forma artesanal
(folhetos) dentre os quais podemos citar: “Nossa
Terra, Nossa Gente; Brasil 500 anos; Os Artistas de Igarapé-Miri; Igarapé-Miri
na era dos Engenhos;” além da “Balsa
dos Derrotados” que a cada período de eleição levava o povo miriense a rir
e se divertir com os resultados eleitorais. Vale lembrar que “A balsa dos derrotados” continua sendo
produzida por Maelson Machado, além de outros escritores que também narram de
forma cômica o resultado das eleições municipais.
Teve
certo envolvimento direto com a política partidária tendo filiado - se ao então
PDS, chegando a concorrer três vezes a câmara de vereadores, mas em nenhuma das
vezes conseguiu se eleger. Da mesma forma, apesar do seu envolvimento
partidário nunca ocupou cargo público no município.
Logo
que chegou à cidade de Igarapé-Miri, Machado começou a vida vendendo cafezinho
em frente ao hospital. Trabalhou depois com o empresário Ticiano Miranda. Mas com a determinação que tinha e com as
economias que fazia, chegou a ser proprietário de olaria (na época essa atividade,
financeiramente rendia bastante). Chegou a possuir diversos barcos de pequeno porte
na época em que ficou conhecido como o “Rei
dos Tijolos”. Conseguiu construir um barco de tamanho bem maior, competindo
assim com os grandes proprietários e empresários da época, mas o feito
coincidiu com sua 3ª tentativa de candidatura a vereador, onde o poeta após
perder eleição acabou desfazendo-se do barco para saldar dívidas eleitorais. Foi
proprietário da banca de jogo do bicho “À
Collorida”, uma homenagem ao então presidente da República Fernando Collor
de Melo.
Após
a aposentadoria, sua diversão diária era estar com os amigos no fim de tarde
jogando “sueca”, contando piadas e
recitando seus trabalhos.
Pelo
que vimos do poeta, devo dizer que Machado se equipara aos grandes cordelistas
do país, que a exemplo do nordestino Antônio Gonçalves da Silva “o Patativa do
Assaré” conseguiu revelar seu talento enorme com as palavras mesmo sem ter tido
formação escolar. Machado estudou até a terceira sério do primário, mas sua
curiosidade com as letras foram aos poucos lhe conduzindo ao universo da
literatura de cordel. É certo que teve influência de vários cordelistas nacionais
ou portugueses e leu folhetos que na época eram novidades ao trazer narrativas
épicas como “Vicente Rei dos Ladrões”, de Manoel Almeida Filho.
Manoel
Machado, na sua simplicidade e obstinação poética transformou-se em espelho
para cordelistas de hoje. E posso dizer que devo a Machado o gosto inicial por
esse tipo de literatura.
Em
suma Manoel Machado é para ser conhecido, lido e se possível compreendido. Manoel Machado morreu no dia 08 de junho de 2010. Tendo o seu velório ocorrido na Casa da
Cultura onde várias homenagens lhe foram dedicadas.
Lista de as produções do
poeta: Nossa Terra Nossa Gente (1988), A
Vitória de Danda e a Balsa dos Derrotados (1988), Para Deputado Estadual Miguel
Pantoja ou Nº 11.108 (1990), Vamos Colorir! Para Presidente do Brasil Collor
(1990), A Vitória de Collor e a Balsa dos Derrotados (1990), Governador Hélio
Gueiros “Nota 100” (1990), A Vitória de Jáder e a Balsa dos Derrotados (1990),
Igarapé-Miri, Terra de Sant’Ana (1991), Para Prefeito de Igarapé-Miri Miguel
Pantoja (1992), A Vitória de Miguel Pantoja e a Balsa dos Derrotados (1992),
Lembrança da Visita de Nossa Senhora de Nazaré à Cidade de Igarapé-Miri e à
Vila Maiauatá (1992), A Visita de Papai Noel em Igarapé-Miri (1993), O Brasil
dos Brasileiros (1994), Brasil Classificado para a Copa de 1994 (1993), Brasil
Tetra Campeão “A Taça do Mundo é Nossa!” (1994), A Trajetória de Gérson Peres
“O Patativa do Tocantins” (1994, A Trajetória da Vida e Morte de Padre Henrique
(1995), Para Vereador Manoel Machado (1996), Para Prefeito de Igarapé-Miri
Alberone Lobato Vice Eládio Lobato (1996),A Vitória de Mário Leão e a Balsa dos
Derrotados (1996), A Vitória de Almir Gabriel e a Balsa dos Derrotados (1998),
Para Deputado Estadual Miguel Pantoja ou Nº 25.200 (2000), Brasil 500 Anos
(2000), Por Amor a Nossa Terra “Mário Leão” (2000),A Vitória do Dr. Mário e a
Balsa dos Derrotados (2000),O Trabalho não pode parar para Prefeito “Parola”
(2000),Homenagem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2000),Festividade de Nª
Sª Santana (2001), Igarapé-Miri na Era dos Engenhos (2001),A Biografia em
Versos de Ticiano Corrêa de Miranda (2002),Para Deputado Estadual Dr. Otávio
Sinimbú (2002),Vote Gerson Peres para Senador (2002),Vote no Dr. Simão Jatene
para Governador (2002),A Vitória de Dilza Pantoja e a Balsa dos Derrotados
(2004), Trajetória de Vida e Morte de José Mendes Pantoja “Talico” (2006), Os
Artistas de Igarapé-Miri (2008), Igarapé-Miri, Terra de Sant’Ana “Atualizado” (2008), A Vitória de Roberto
Pina e a Balsa dos Derrotados (2008). Além dos trabalhos não divulgados:
Homenagem ao Governador Jáder Barbalho (1990),Homenagem a Casa Mirandinha
(2000), Homenagem ao Paysandu Bi Campeão Brasileiro (2001), O Valor de uma
Bengala (2001), Natal do Menino Jesus (2002), Homenagem ao Governador Simão
Jatene (2002), Homenagem a Dra. Virgínia e Dra. Cláudia (2002),Homenagem a Dra.
Cláudia (2003),Recado para a Campanha de Mobilização Social (2004), História de
Vida do Manoel Machado (2008).