domingo, 15 de outubro de 2017

UMA SINGELA HOMENAGEM A QUEM MERECE


Antonio Marcos Ferreira[1]
A todos os meus colegas
Parceiros de profissão
Quero expressar minha homenagem
Nesta singela mensagem
Aos mestres da educação

Foi no ano de 63[2]
Que a data foi oficializada
Por decreto federal
Que no território nacional
Seria então celebrada

O decreto da sua essência
Trazia o seguinte teor
“Promover solenidade
Junto com a comunidade
Em homenagem ao professor”

Passando-se várias décadas
Perguntamo-nos então
Quais foram nossas conquistas
E que desafios estão à vista
No campo da educação

E para responder bem breve
Expresso indignação
E clamo desse momento
Por mais reconhecimento
Aos profissionais da educação

Não só salários decentes
É nossa reivindicação
Mas por estrutura e respeito
Que ousamos bater no peito
E pedir vossa atenção

Preservem nossos direitos
É o que pede a categoria
De uma profissão milenar
De quem se dedica a educar
É que hoje celebra seu dia

Parabéns aos professores
Heróis dessa nação
Quero assim homenagear
E felicitações quero prestar
Aos mestre da educação!












[1] Graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura Plena) pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Pós-graduado em Educação, Diversidade e Inclusão Social pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Professor da Rede Estadual de Educação – SEDUC/PA.  Coordenador do Núcleo de Cultura e Educação Popular do Instituto Caboclo da Amazônia. Membro da Academia Igarapemiriense de letras cadeira nº 01- patrono Manoel Alexandrino Correa Machado.

[2] A data foi oficializada nacionalmente por decreto nº 52.682, de 14 de outubro de 1963

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

CAMINHOS DO POETA: UMA ABORDAGEM DESCRITIVA SOBRE A VIDA DE MANOEL MACHADO

Antonio Marcos Ferreira[i]


Produzir uma narrativa descritiva da vida do saudoso miriense Manoel Machado é tarefa que assumo com liberdade e indescritível satisfação, dada a importância do poeta que considero o maior cordelista que por essas “bandas” tive a oportunidade de conhecer e traçar ainda que breve diálogo em vista da avançada idade e complicada situação de saúde pela qual passava o escritor no período de nossa aproximação.
Ainda assim, digo esse tempo de convivência limitada me instigou ao conhecimento dos mais importantes momentos e fatos da vida de Manoel Machado. Acrescento ainda minha gratidão pela família do poeta, com a qual desfruto hoje de amizade e respeitosa aproximação, sobretudo sua esposa – viúva dona Nazaré Machado e um dos seus herdeiros, o matemático Maelson Nazareno Machado, que com talento similar também atreve-se a trilhar o trajeto poético do pai, inclusive com assento na recém constituída Academia Igarapemiriense de Letras.
Consta no documento de registro geral de Manoel Machado as informações de seu nascimento, cujo nome de batismo é Manoel Alexandrino de Castro Machado, datado à 22 de setembro de 1929, na comunidade de Rio das Flores, distrito do Maiauatá, município de Igarapé-Miri. Filho de Pedro Paulo Machado, que atuava como comissário (na época, uma espécie de representante da comunidade junto a polícia civil do município) e Isabel de Castro Machado (a qual exercia a função de professora).
Desde sua infância, já mostrava a paixão pela poesia, tendo sua mãe como principal incentivadora.  Seu talento começou logo a ser notado a ponto de com apenas dez anos de idade ter sido convidado a recitar um poema ao então Governador do Estado do Pará, Joaquim Magalhães Cardoso Barata, ou simplesmente Barata. Foi aí que colocado em cima de uma cadeira o então garoto assim declamou:

Tu já viste a árvore correr atrás do garoto que lhe atira pedra? Pensas por ventura que a árvore não tem sensibilidade e consciência dos seus frutos e das suas flores. Tem! Mas, Deus prevendo o futuro, enraizou-a no chão para que ela não se esquecesse do seu dever, de perder tempo para vingar injúrias. (Fragmento do poema “O menino e a árvore” - não se tem certeza sobre a autoria do mesmo)


Conta Maelson, que após recitação o menino teria sido ovacionado graças a percepção de seu talento e entonação para uso público da palavra, habilidade que mais tarde seria cada vez mais aprimorada em dezenas de produções em cordel construídas pelo poeta popular.

Durante sua juventude trabalhou de empregado com um comerciante na própria localidade, tendo depois se mudado para a cidade de Igarapé-Miri, onde casou-se com a jovem Nazaré, a qual encantou-se com tipo galanteador do poeta, prosador, artesão contador de estórias, entre outras virtude de Manoel Machado.  Durante o longo tempo de vida conjugal o casal concebeu a paternidade de cinco filhos, sendo os quais cito respectivamente conforme ordem de nascimento: Nilzeth,  Maelson,  Mozaniel (este tento falecido ainda na infância), Mailson e a caçula Nildete , além de Núbia (fruto de uma primeira relação de Nazaré) e Jesus  das Graças “ Jota” (este adotado pelo casal) , os quais Machado  cuidou e educou tão bem quanto os demais.
Sua habilidade com as rimas (literatura de cordel) lhe renderam popularidade em seu Igarapé-Miri e em outras cidades da região, tendo sido convidado por vários políticos e celebridades para escrever sobre suas trajetórias de vida.
Publicou dezenas de trabalhos[1] de forma artesanal (folhetos) dentre os quais podemos citar: “Nossa Terra, Nossa Gente; Brasil 500 anos; Os Artistas de Igarapé-Miri; Igarapé-Miri na era dos Engenhos;” além da “Balsa dos Derrotados” que a cada período de eleição levava o povo miriense a rir e se divertir com os resultados eleitorais. Vale lembrar que “A balsa dos derrotados” continua sendo produzida por Maelson Machado, além de outros escritores que também narram de forma cômica o resultado das eleições municipais.
Teve certo envolvimento direto com a política partidária tendo filiado - se ao então PDS, chegando a concorrer três vezes a câmara de vereadores, mas em nenhuma das vezes conseguiu se eleger. Da mesma forma, apesar do seu envolvimento partidário nunca ocupou cargo público no município.
Logo que chegou à cidade de Igarapé-Miri, Machado começou a vida vendendo cafezinho em frente ao hospital. Trabalhou depois com o empresário Ticiano Miranda.  Mas com a determinação que tinha e com as economias que fazia, chegou a ser proprietário de olaria (na época essa atividade, financeiramente rendia bastante). Chegou a possuir diversos barcos de pequeno porte na época em que ficou conhecido como o “Rei dos Tijolos”. Conseguiu construir um barco de tamanho bem maior, competindo assim com os grandes proprietários e empresários da época, mas o feito coincidiu com sua 3ª tentativa de candidatura a vereador, onde o poeta após perder eleição acabou desfazendo-se do barco para saldar dívidas eleitorais. Foi proprietário da banca de jogo do bicho “À Collorida”, uma homenagem ao então presidente da República Fernando Collor de Melo.
Após a aposentadoria, sua diversão diária era estar com os amigos no fim de tarde jogando “sueca”, contando piadas e recitando seus trabalhos.
Pelo que vimos do poeta, devo dizer que Machado se equipara aos grandes cordelistas do país, que a exemplo do nordestino Antônio Gonçalves da Silva “o Patativa do Assaré” conseguiu revelar seu talento enorme com as palavras mesmo sem ter tido formação escolar. Machado estudou até a terceira sério do primário, mas sua curiosidade com as letras foram aos poucos lhe conduzindo ao universo da literatura de cordel. É certo que teve influência de vários cordelistas nacionais ou portugueses e leu folhetos que na época eram novidades ao trazer narrativas épicas como “Vicente Rei dos Ladrões”, de Manoel Almeida Filho.
Manoel Machado, na sua simplicidade e obstinação poética transformou-se em espelho para cordelistas de hoje. E posso dizer que devo a Machado o gosto inicial por esse tipo de literatura.
Em suma Manoel Machado é para ser conhecido, lido e se possível compreendido.  Manoel Machado morreu no dia 08 de junho de 2010.  Tendo o seu velório ocorrido na Casa da Cultura onde várias homenagens lhe foram dedicadas.




















[1] Lista de as produções do poeta: Nossa Terra Nossa Gente (1988),  A Vitória de Danda e a Balsa dos Derrotados (1988), Para Deputado Estadual Miguel Pantoja ou Nº 11.108 (1990), Vamos Colorir! Para Presidente do Brasil Collor (1990), A Vitória de Collor e a Balsa dos Derrotados (1990), Governador Hélio Gueiros “Nota 100” (1990), A Vitória de Jáder e a Balsa dos Derrotados (1990), Igarapé-Miri, Terra de Sant’Ana (1991), Para Prefeito de Igarapé-Miri Miguel Pantoja (1992), A Vitória de Miguel Pantoja e a Balsa dos Derrotados (1992), Lembrança da Visita de Nossa Senhora de Nazaré à Cidade de Igarapé-Miri e à Vila Maiauatá (1992), A Visita de Papai Noel em Igarapé-Miri (1993), O Brasil dos Brasileiros (1994), Brasil Classificado para a Copa de 1994 (1993), Brasil Tetra Campeão “A Taça do Mundo é Nossa!” (1994), A Trajetória de Gérson Peres “O Patativa do Tocantins” (1994, A Trajetória da Vida e Morte de Padre Henrique (1995), Para Vereador Manoel Machado (1996), Para Prefeito de Igarapé-Miri Alberone Lobato Vice Eládio Lobato (1996),A Vitória de Mário Leão e a Balsa dos Derrotados (1996), A Vitória de Almir Gabriel e a Balsa dos Derrotados (1998), Para Deputado Estadual Miguel Pantoja ou Nº 25.200 (2000), Brasil 500 Anos (2000), Por Amor a Nossa Terra “Mário Leão” (2000),A Vitória do Dr. Mário e a Balsa dos Derrotados (2000),O Trabalho não pode parar para Prefeito “Parola” (2000),Homenagem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2000),Festividade de Nª Sª Santana (2001), Igarapé-Miri na Era dos Engenhos (2001),A Biografia em Versos de Ticiano Corrêa de Miranda (2002),Para Deputado Estadual Dr. Otávio Sinimbú (2002),Vote Gerson Peres para Senador (2002),Vote no Dr. Simão Jatene para Governador (2002),A Vitória de Dilza Pantoja e a Balsa dos Derrotados (2004), Trajetória de Vida e Morte de José Mendes Pantoja “Talico” (2006), Os Artistas de Igarapé-Miri (2008), Igarapé-Miri, Terra de Sant’Ana  “Atualizado” (2008), A Vitória de Roberto Pina e a Balsa dos Derrotados (2008). Além dos trabalhos não divulgados: Homenagem ao Governador Jáder Barbalho (1990),Homenagem a Casa Mirandinha (2000), Homenagem ao Paysandu Bi Campeão Brasileiro (2001), O Valor de uma Bengala (2001), Natal do Menino Jesus (2002), Homenagem ao Governador Simão Jatene (2002), Homenagem a Dra. Virgínia e Dra. Cláudia (2002),Homenagem a Dra. Cláudia (2003),Recado para a Campanha de Mobilização Social (2004), História de Vida do Manoel Machado (2008).



[i] [i] Graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura Plena) pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Pós-graduado em Educação, Diversidade e Inclusão Social pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Professor da Rede Estadual de Educação – SEDUC/PA.  Coordenador do Núcleo de Cultura e Educação Popular do Instituto Caboclo da Amazônia. Membro da Academia Igarapemiriense de letras cadeira nº 01- patrono Manoel Alexandrino Correa Machado.



segunda-feira, 22 de maio de 2017

DISCURSO DE ORADOR NA CERIMÔNIA DE POSSE DA ACADEMIA IGARAPEMIRIENSE DE LETRAS


(Antonio Marcos Ferreira, membro da Academia Igarapemiriense Letras, cadeira nº 1, patrono Manoel Alexandrino de Castro Machado)

Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Senhoras e senhores, com este poema de Cecília Meireles, quero iniciar este breve discurso citando o poder da palavras em nossas vidas e o significado deste momento onde celebramos publicamente a criação da Academia Igarapemiriense Letras.  Acrescento a essa introdução o trecho de um poema de minha autoria, onde parafraseando o poeta Fernando Pessoa escrevo “O poeta é diferente, mas não é maluco ao descrever o que sente, fala da vida, fala do amor, fala dele mesmo, não é um simples sonhador, é de fato fingidor e até finge estar contente quanto estar sofrendo em dor”.
Quero assim cumprimentar as autoridades aqui presentes, assim como cada convidados dos nobres imortais da AIL, e claro, que de modo muito particular tenho a peculiar satisfação em cumprimentar cada um dos confrades responsáveis pela criação e instalação da Academia Igarapemiriense de Letras.
Quero inicialmente cumprimentar a senhora Graça Lobato Garcia, presidente da Academia Paraense Literária Interiorana, herdeira do saudoso escritor miriense e nosso patrono, Eládio Correa Lobato, nome decidido por unanimidade por este silogeu, por conta da incontestável contribuição de quem tanto amou Igarapé-Miri e fez questão de deixar registrado em dezenas de obras publicadas em vida, Caminho de Canoa Pequena,  Festa Religiosas Centenárias, Sequestro de D. Pedro I e outros fatos, Centenário da Festa de Nazaré e Maiauatá, Gêmea do Cupim... só para citar algumas obras de seu legado, além de uma obra que eu considero fantástica dada ao quantidade de conteúdo qual retrata o ciclo da cana de açúcar e a economia miriense daquela época,  estou me referindo a obra “Memória dos Engenhos do Baixo Tocantins”, organizada e publicada após o seu falecimento pela sua filha  Graça. Político atuante, foi vereador, prefeito, deputado, jornalista (...), editou por muitos anos o Correio de Igarapé-Miri, aliás foi graças a esse instrumento que tive a oportunidade de me aproximar, tanto de Eládio, quanto de Graça Garcia. 
Senhora Graça Lobato Garcia, devo aqui manifestar o meu imenso respeito e minha admiração pela história da sua família e dizer que a criação da AIL tem a contribuição indiscutível da senhora.
Preciso aqui relatar que em 2014 recebemos assinado pela Senhora Graça um oficio   nos informando de uma secção da APLI na qual  citava o desenvolvimento das publicações literárias nesta terra, e apresentava o desejo da APLI de que neste município fosse iniciada a discussão sobre criação de uma agremiação literária que reunisse os produtores da escrita neste torrão, ao mesmo tempo em que demostrava a disposição da APLI em colaborar diretamente na organização da futura entidade, o documento foi endereçado ao Conselho Municipal de Cultura, cuja função de presidente era exercida por mim naquele momento. No mesmo documento a senhora Graça Garcia nos indicou o nome da poetisa também miriense e integrante da APLI Anne Veloso Monteiro (hoje ministra mundial da poesia) para assim ajudar com as orientações burocráticas, o que assim de fato ocorreu.
Na ocasião o Conselho Municipal de Cultura, através da Câmara Setorial Literatura achou por uma questão de coerência procurar dialogar com o segmento literário. Foi assim que se buscou de imediato dialogar com o Instituto Caboclo da Amazônia, pela via interna do Núcleo de Cultura e Educação Popular, cuja envolvimento literário já havia se materializado com a publicação da 1ª Antologia de Poema, Contos e outros gêneros textuais, intitulada Escritos em Verso e Prosa.  Assim a apropriação da discussão pelo Incam foi sem dúvida determinante os diversos encontros que culminariam com o momento de instalação da AIL, ocorrido em 24 de julho de 2015.
Devo dizer no entanto que a meta de criação de uma Academia Literária Miriense   já era rascunhada em diversos momentos de diálogos entre Israel Fonseca Araújo e Eu, já 2008/2009 após a publicação do obra Contrastes: poemas que nascem na Amazônia, através da qual passamos a reunir diversos amigos e amigas, também amantes da escrita e da leitura, fizemos diversas rodas de conversa, muitas delas tendo como palco a auditório da Escola Estadual Enedina Sampaio Melo.
Com a criação do Instituto Caboclo da Amazônia, esses debates seriam aperfeiçoados. A literatura passaria a integrar diálogos importantes sobre educação, cultura e desenvolvimento sustentável na região. Devo aqui dizer que o INCAM iniciou com membros na maioria jovens que após voltarem estudar de suas graduações em outros município começaram a fazer debates no sentido de contribuir com discussões importantes, promovendo Fóruns, Feiras entre outros.
Quero aqui destacar a nossa aproximação com o coordenador artístico Cultural da pró-reitora de extensão da UFPA, nosso confrade e editor João de Castro, pessoa que nos abriu portas para o caminho das publicações.  Desde de 2010 quando nos aproximamos de João de Castro, dezenas de obras miriense começaram a ser publicadas. Da mesma forma foi através de Joao de Castro que nossos trabalhos começaram a ganhar espaços na Feira da PAN amazônica do livro, assim como em outros espaços da capital e em outros municípios. É certo que também devemos a Joao de Castro os inúmeros incentivos a instalação da AIL.  
A criação da Academia Igarapemiriense chegou entrar como meta prevista no plano municipal de cultura, após debates construídos nas conferencia municipal de cultura de 2014. Mas foi em 2015 a AIL se concretizou e hoje chegou o dia oportuno para se sacramentar esse momento tão cheio de significado para cada um de nós.
Retomando ao poder da palavra descrita na poesia de Cecília Meireles no início desta minha fala devo dizer que grande é tarefa de quem a diz. Não que o quem escreve sempre tenha que escrever no intuito de ser entendido.  Nos dizeres de Nietsche "O ... "Não sequer apenas ser compreendido, quando se escreve, mas também, mas também por certo não ser compreendido”. Vê-se que nisso também consiste a virtude daquele que produz, é só lembrar para momentos de ditadura, e lembrar dos tantos recursos linguísticos utilizados para dificultar a compreensão. É certo que nós acadêmicos estaremos cientes disso.
“Ai palavras, ai palavras, que estranha potência vossa!


VIVA A ACADEMIA IGARAPEMIRIENSE DE LETRAS. Viva Igarapé-Miri.  

Informações complementares:

1. Discurso proferido no dia 20/05/2017, no salão de reuniões da Câmara Municipal de Igarapé – Miri, por ocasião da posse de 13 imortais da AIL.

segunda-feira, 13 de março de 2017

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: O QUE COMEMORAR?






Antonio Marcos Ferreira [1
Quem disse que 08 de março é para ser comemorado? Se até hoje centenas de mulheres continuam sofrendo na pele os mais diversos tipos de violência? Quem disse que o esse dia é para ser comemorado? Se até os dias de hoje a tão sonhada participação feminina ainda não é plena.  É só olhar para governos e partidos e perceber que poucos são os que respeitam a equidade de gênero, com candidaturas femininas autênticas (isto é não apenas para cumprir tabela, e garantir candidaturas masculinas), assim como em composição de secretarias de governos ou ministérios, entre outros tantos exemplos.
É bom que se saiba que nos dias mais de 50% dos eleitores brasileiros são mulheres. Esses números também já se repetem nas candidaturas do país, onde mais da metade dos candidatos são do sexo feminino. No entanto o número de mulheres eleitas ainda é muito pequeno, em 2016 apenas 12 % dos candidatos eleitos são mulheres.
Vejam que as desigualdades vão à diante, é só comparar salários de homens e mulheres em funções equivalentes e perceber que violências diversas continuam sendo praticadas diariamente em frente de nossos olhos. Claro que nos dias de hoje já temos instrumentos que permitem coibir e enfrentar essas práticas de violências, como lei Maria da Penha, a legislação trabalhista e a própria legislação eleitoral, e assim por diante. Mas todos esses instrumentos não tem sido suficiente para eliminar as práticas violência. Sendo necessário empenho de todos para enfrentar esse problema.
No entanto este dia é para ser celebrado como símbolo e marco da resistência protagonizada por mulheres que ousaram enfrentar a injustiça e a opressão que durante séculos sempre foi imposta ao gênero.
Este dia é sim de homenagem e celebração pela luta de mulheres com que com ousadia tem ocupado espaços tornando-se lideranças em todos os segmentos. No município de Igarapé-Miri, cito a exemplo Benedita dos Santos (Benoca), destaque nos movimentos sociais e grupos culturais do município. Símbolo de resistência e luta contra a violência e o preconceito racial. Cito também o exemplo da hoje  musa do carimbó, a moça das “travessias e travessuras”, Dona Onete Gama, que tanto nos orgulha, que tanto nos encanta com a sua poesia e musicalidade.  Seu exemplo nos ensina que nunca é tarde para sonhar e realizar. E que para o sucesso não precisa se inventar, mas valorizar aquilo que se tem. A menina do Rio das Flores cresceu e ganhou o mundo, sem esquecer-se de onde veio e por onde andou. Sua música nos contagia e nos faz tremer de emoção ao sabor do jambu. Ela que buscou na música a oportunidade de sacramentar a própria liberdade.
Enfim este dia é sim para homenagear mulheres que diferente das mulheres de Atenas não se curvam. Não se limitam a ser coadjuvantes. Não se contentam com as injustiças e vão ocupando os espaços na sociedade. Seja na política ou nas universidades, nos sindicatos, nas artes, ou em qualquer espaço. Mulheres que não se contatam com a vida privada do oikos (casa), mas reivindicam a sua participação na ágora (praça) contribuindo assim com os destinos da cidade.
[1] Graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura Plena) pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Pós-graduado em Educação, Diversidade e Inclusão Social pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Professor da Rede Estadual de Educação – SEDUC/PA.  Coordenador do Núcleo de Cultura e Educação Popular do Instituto Caboclo da Amazônia. Vice – Presidente da Academia Igarapemiriense de Letras cadeira nº 01- patrono Manoel Alexandrino Correa Machado.