No ano de 2008,
centenas de jovens de todo o Estado do Pará, estivem reunidos na I Conferência da
Juventude, realizada em Belém do Pará, no Hangar-Centro de Convenções da
Amazônia. A Conferência discutiu diversas e importantes questões atreladas à
juventude como: Educação, Política, Cultura,Comunicação e Mídias sociais. As
questões Educação e Política ocuparam grande parte desses
debates naquele momento.Mas,afinal o que a Política tem a ver de fato com a
nossa vida?
Se olharmos para
atualidade veremos que a questão política ainda é vista pela maioria dos jovens
e adolescentes como “papo careta”, a maioria acha que a política só tem a ver com
o governo e com políticos profissionais e partidos em época de eleição, o que é
um grande equívoco, na verdade essa é uma (in)
compreensão distorcida de política.
Segundo Hannah
Arendt, esse equívoco iniciou com a destruição do sentido da política promovido
pelo Totalitarismo, o qual provocou uma ruptura com o sentido original
construído pelo pensamento grego. Para a filósofa, a política não está no homem
enquanto homem faculdade ou essência, mas sim nos homens enquanto atividade. Em
outras palavras ela não está fora do contexto social, mas interessa a todos já
que faz parte de nosso dia-a-dia. Por exemplo, quando você decide participar de
um movimento com objetivo de diminuir o lixo nas ruas (ou nos rios), querendo
ou não você está fazendo política. Sendo assim política é toda atividade que as
pessoas praticam no intuito de influenciar as decisões da sociedade. Ela
envolve uma camada de decisões com objetivo de atingir determinados interesses.
Quem participa da vida em comunidade torna-se sujeito de suas ações, sendo capaz
de fazer críticas, de escolher e de defender seus direitos, assim como cumprir
seus deveres.
Segundo um colaborador
da revista Mundo Jovem chamado de Rui
Souza, o descrédito para com a política se dá justamente por limitarmos a vida
política à atividade político-partidária, já que os partidos estão também em
descrédito (por inúmeros motivos: corrupção, crise ideológica .etc.).Fica cada
vez mais evidente a preferência pela atuação política nos movimentos sociais e
organizações não governamentais (ONGs).Na linguagem popular fala-se mais em
cidadania do que em política.
Ressalta Rui Souza,
que a militância política nos movimentos sociais e nas ONGs não está incorreta,
porém ela não deve substituir as organizações político- partidárias, mas
desafiá-las à se renovarem.Em todo caso a política não pode ser tratada como
“papo careta”.
De acordo com o
Padre Albano Trinks (1999) a vida do ser humano está atrelada a algumas
dimensões, como: a dimensão econômica, a dimensão simbólico/cultural e a
dimensão política. A postura do cidadão que abomina a política por considerá-la
“suja”, também não deixa de ser uma postura política, e o pior, uma política
revestida de extrema ignorância e irresponsabilidade (CF. “O analfabeto
político” de Bertold Brecht).Nesse contexto a juventude não pode abrir mão
daquilo que segundo Hannah Arendt é nossa condição humana, isto é a atividade
política.
O protagonismo
pregado por grupos de jovens como a Pastoral de Juventude
(PJ) tem ajudado a formar e informar esses jovens dentro de uma forte tendência
para uma educação de caráter popular, que não se opõe à educação formal, mas
constrói conhecimentos práticos nas “universidades da vida” (CEBs, sindicatos,
associações, partidos, grêmios estudantis etc).É bem verdade que também o poder
público principalmente onde se tem como gestores partidos considerados de
esquerda,também vêm sentido a necessidade de provocar em seus governos a
implementação de um modelo de educação que se aproxime do popular, mas isso
ainda continua seguindo a lentos passos.
Esse conceito de
educação popular foi muito bem desenvolvido pelo educador brasileiro Paulo
Freire que seguindo a idéia da educação socrática (só sei que nada sei), afirma
que o conhecimento tem como conceito básico a simetria discursiva, o diálogo
entre os pares ou grupos. Esse conhecimento funciona como ato público não para
o estudante, mas com o estudante.
A educação popular
de Freire parte da realidade das camadas sociais realmente populares, leva em
conta o local (a região) em que vive o estudante e tem como objetivo primordial
sua inserção no processo educativo de modo vivo e dinâmico.
Em tese, a educação
popular não exclui proletário nem sub-proletário, nem mendigo, ela é pautada em
questões problematizadoras que envolvem tanto o pensamento quanto o sentimento.
Nessa concepção educacional bens culturais, bens lingüísticos são vistos como
direitos inalienáveis de todas as camadas sociais. O estudante passa ser visto
como pessoa criativa e crítica. Nesse sentido educar é um ato cuidadoso exige
partilha, conhecimento, respeito mútuo, aceitação do outro e de si próprio e
assim por diante.
Sendo assim, é
importante reconhecer a proposta positiva de grupos como a Pastoral da
Juventude, que pensam a juventude a partir dessa lógica, incentivando o
protagonismo diante do mundo em que estamos inseridos, entendendo que é
necessário discutir educação para além dos muros da escola formal, e que é
preciso mostrar que não é caretice falar e participar dos assuntos vinculados a
política, já que tratam das relações necessárias a vida coletiva.
[1]Graduado emFilosofia (Bacharelado e Licenciatura
Plena) pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Pós-graduado em Educação,
Diversidade e Inclusão Social pela Universidade CatólicaDom Bosco (UCDB).
Professor da Rede Estadual de Educação – SEDUC/PA. Coordenador do Núcleo de Cultura e Educação
Populardo Instituto Caboclo da Amazônia
Muito Bom - Gostei.
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